quinta-feira, 17 de maio de 2018

3 artefatos com histórias polêmicas

Diferente do que muita gente pensa, o museu  não é só lugar de coisa velha. Existem diversos tipos: históricos, artísticos, científicos, museus comunitários, centros culturais, virtuais, entre outros. Além disso, possuem narrativas e objetivos múltiplos. Desde o início no séculos XX, profissionais tem se voltado cada vez mais para a importância do público e discutido sobre a troca entre instituição e a sociedade. 

Pensando nisso, resolvi trazer três objetos com histórias tumultuadas e polêmicas. Eles envolvem a discussão sobre repatriação; afinal, muitos museus que possuem coleções imensas e diversos objetos que vieram como espólio de guerra, roubo, negociações políticas... Enfim, situações desconfortáveis. 

E por que isso me interessaria, Rayssa? É importante que a gente conheça o nosso patrimônio, aquilo que de alguma forma interfere na nossa identidade como nação. Além disso, são questões éticas e de poder que envolvem estas discussões. Elas te afetam, sim!

Eu conheci as histórias abaixo durante esses três semestres de faculdade, procurando reportagens e vendo alguns documentários indicados pelos professores. Caso você se interesse por mais detalhes, é super fácil achar diversas matérias sobre o tema, principalmente no que se refere ao comércio ilegal de obras de arte. As duas últimas foram propostas pelo meu professor em sala no 1º período, como um tribunal: alguns defenderam a devolução, e outros, a permanência do bem na instituição atual. Foi uma atividade muito interessante!

1. Manto Tupinambá:

As antigas colônias tiveram muito de seu patrimônio levado para a Europa. Ter coleções "exóticas" era uma forma de demonstrar o domínio da metrópole sobre o território. Há apenas seis exemplares preservados no mundo destes mantos, que ainda trazem quase intactos os trançados de fibras naturais e penas vermelhas de guarás e azuis de ararunas.

O mais conhecido e conservado deles está no Nationalmuseet, em Copenhague, capital da Dinamarca. O exemplar foi exposto no Brasil em 2000, nas comemorações dos 500 anos do descobrimento pelos portugueses. Foi nessa ocasião que povos que reivindicam ser herdeiros dos tupinambás, em especial os Tupinambá de Olivença, na Bahia, passaram a requerer o retorno do manto. Por e-mail, o Nationalmuseet disse à BBC Brasil que o item consta de registros do museu que datam de 1689 e admitiu que não há "conhecimento sólido" sobre sua procedência.

2. Canhão El Cristiano:
Agora é a vez do Brasil ser colocado na situação polêmica de maneira mais enfática. Este canhão paraguaio foi um espólio de guerra brasileiro, feito a partir do derretimento de diversos sinos de igrejas por falta de material (por isso o nome, "o cristão"), durante a Guerra do Paraguai. Ele está no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.


 O governo do Paraguai reivindica a devolução, considerando-o um símbolo de heroísmo durante a desvantagem paraguaia na guerra. Em 2010, circulou esta matéria na Globo (clique aqui), afirmando que ele seria devolvido, mas não encontrei informações mais recentes que indiquem algum avanço nas negociações. 

Este é um caso muito claro de como o patrimônio cultural nos afeta. Eu te desafio a ler pelo menos os 5 primeiros comentários no vídeo: ambos os lados deixam aflorar suas paixões, fazendo com que a gente pense também se as decisões culturais tomadas pelas autoridades e técnicos nos representam como cidadãos.

3. Frisos do Partenon (ou "Mármores de Elgin")
Este caso é um pouco mais distante da nossa realidade, mas também é famosíssimo. Temos Grécia de um lado e o Reino Unido de outro. Eles foram levados há 200 anos para Londres pelo Lord Elgin, quando a Grécia era dominada pelo Império Otomano, que vendeu os frisos ao British Museum quando entrou em falência, instituição que os possui até hoje. Ao lado do Partenon já foi construído um museu para estas peças, como uma pressão ao governo britânico para realizar esta devolução. Para o governo grego, a devolução seria uma correção diplomática e honrosa a um grave erro do passado e restauração de um símbolo nacional. 


Os contra-argumentos são diversos: o Museu Britânico diz que considerando as guerras pelas quais a Grécia passou, teria sido uma grande sorte que os frisos tenham estado conservados em Londres ao longo desses 2 séculos. Além disso, a Grécia ainda está sob uma crise financeira, fazendo com que sua aptidão para cuidar dos artefatos seja questionada, além de reforçar a importância global dos mármores, considerando que não há problema dele não estar em sua localização de origem. O impasse continua sem nenhuma indicação de desistência por ambas as partes.

Além destes casos envolvendo repatriação de bens, de vez em quando surge algo nos jornais sobre falsificação no mercado das artes ou vendas sem respeito às diretrizes éticas. Isso é mais comum do que se imagina, principalmente entre colecionadores. Muitas vezes os museus possuem em seu acervo peças de origem duvidosa e descobrem a situação muito tempo depois do ocorrido.

Pessoal, é isto por hoje! Espero que essas histórias tenham te deixado mais atento e curioso quanto as decisões referentes as culturas que nos envolvem todos os dias! Gostaria de agradecer a @mmmlivros, parceira do Instagram do blog. que deu algumas ideias que ajudaram esta postagem.  Até amanhã!

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